Fonte: Gazeta Digital, créditos da imagem: Arquivo pessoal
A vasta informação disponível online, relatos nas redes sociais e a popularização de descobertas de transtornos mentais, tornou-se comum entre as pessoas, o autodiagnóstico e medicação sem prescrição. Entre os mais mencionados pelas ‘trends’ está o Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH). Apesar da alta divulgação, muitos conteúdos reproduzidos são disseminados cheios de desinformações, o que banaliza os quadros reais e prejudica o tratamento de quem precisa. Neste cenário, o 13 de julho marca o Dia Mundial de Conscientização do TDAH.
A data visa combater estigmas e ampliar o acesso à informação correta sobre a condição, que afeta cerca 2 milhões de pessoas no Brasil, conforme o Ministério da Saúde. O GD consultou um especialista sobre o assunto, que explicou o que é, tratamento e processo de identificação do transtorno.
O psiquiatra e vice-presidente da Associação de Psiquiatria, Paulo Saldanha, explica que pessoas com o transtorno sentem dificuldades para realizar atividades no cotidiano. Um exemplo é durante a tarefa doméstica, ela se lembra de outra função/compromisso e logo se distrai da primeira função que estava fazendo.
“Duas características do TDAH que fazem muita diferença e realmente prejudica o paciente são a disfunção das funções executivas e a desregulação emocional. A primeira é exatamente o que a gente pensa em fazer e não executa. O planejamento e execução do paciente que tem o diagnóstico sempre vai estar prejudicado. A segunda é um paciente que vai reclamar de irritabilidade, às vezes até uma ansiedade”, explica o médico.
Porém, nem toda distração é um transtorno. Com tantos estímulos e rapidez no consumo de informações, o cérebro ficou “destreinado” a focar em uma atividade por mais tempo.
“O próprio algoritmo guia tudo que se cria para que se mantenha a atenção por, no máximo, 30 segundos. Você treina todo dia a manter a atenção por 30 segundos no máximo. Isso não é um diagnóstico de TDAH. Isso realmente vira uma ‘pandemia’ de pessoas que não conseguem manter a atenção. As interrupções também. Passamos o dia inteiro sendo interrompidos por áudios e mensagens. Isso deixa todo mundo de uma forma desconcentrado e desatento a viver o presente”, alerta.
Sobre o diagnóstico correto para o reconhecimento da doença, o médico destaca que deve ser feito por profissionais de diferentes áreas de atuação. O que não é um laudo simples e rápido de ser elaborado.
“O diagnóstico é clínico e não é rápido, na minha experiência. É complicado separar o que paciente traz como queixa, para ver se isso é o TDAH ou se é só o modo vida que a pessoa está levando. Se é uma depressão, ansiedade e diversos outros transtornos. É possível também ter o auxílio de uma avaliação neuropsicológica que também pode ajudar com os testes”, acrescenta.
O tratamento para as pessoas com TDAH consiste no uso de remédios estimulantes, medicamentos não estimulantes e o exercício físico. O especialista também destaca o papel fundamental da terapia feita pelos neuropsicólogos.
“Além da terapia cognitiva e comportamental, que visa a melhora dessa função executiva para conseguir cumprir as tarefas de maneira melhor, também ajuda o paciente a entender que nem tudo na vida dele acontece por causa do transtorno”, acrescenta.
Uma ressalva feita pelo psiquiatra, entretanto, é o crescente número de pessoas que usam os remédios estimulantes sem o diagnóstico e orientação de um médico.
“O uso fora de orientação que várias camadas da população estão usando exige atenção. Universitários e adultos em trabalhos que exigem mais empenho estão usando (medicamentos) por uma demanda de produtividade. São escolhas quase comuns. Isso é uma preocupação. Não são medicações que só aumentam a produtividade e dá tudo certo. Elas têm efeitos colaterais importantes. Como a maioria não tem diagnóstico, vão se acostumando com efeito de estímulo e passam a usar doses cada vez maiores. Isso vira um ciclo vicioso”, alerta.