Consultoria de Roque Junior levou donos do Manchester City ao Bahia; entenda

A venda de 90% de Sociedade Anônima do Futebol (SAF) do Bahia ao Grupo City, acertada há quase um mês, teve como intermediário uma consultoria criada recentemente. A ‘Convocados’, que trabalhou durante meses ‘no sigilo’, foi responsável por intermediar o acordo entre o clube baiano e os investidores ingleses, que se comprometeram a aportar R$ 1 bilhão na SAF a ser constituída.

Criada há um ano, a consultoria é composta por nomes que têm vivências diferentes no futebol e, por isso, eles entendem que, juntos, formam uma equipe coesa. Cesar Grafietti é economista conhecido no meio esportivo; Rafael Plastina é especialista em marketing do esporte; Renée Pinheiro atuou por quase duas décadas na área de scout de equipes com o Red Bull Brasil e Granada; e Rodolfo Kussarev trabalhou na gestão de Santos, Corinthians e Flamengo, entre outros.

O quinto elemento da Convocados é bem conhecido. Trata-se de Roque Junior, zagueiro pentacampeão com a seleção brasileira e que também ‘joga fora das quatro linhas’, ao passo que já foi técnico, comentarista e hoje é dirigente esportivo.

O grupo se divide em dois braços: de gestão, com projetos no Brasil e no exterior, e de consultoria. Nessa vertente, a atuação se dá em duas frentes: ajudar investidores a comprar clubes no Brasil e auxiliar clubes brasileiros no processo de profissionalização e preparação para receber investimentos.

‘Nós nos juntamos quando percebemos que o mercado ia mudar, que ia demandar uma consultoria que não fosse aquela que pega as coisas prontas na prateleira, mas que traga um valor adicional. Daí montamos os Convocados para atender esse novo mercado no País’, explica Grafietti, profissional do mercado financeiro e que, como consultor do Itaú BBA para finanças do esporte, elaborou relatórios do futebol nacional.

‘A complementariedade de conhecimentos e a rede de relacionamentos que construímos posicionam a Convocados como uma parceira fundamental para quem busca investir no esporte’, garante Renée Pinheiro. A assessoria contempla o processo de estabelecimento e operação, estrutura existente e possibilidades futuras de receitas.

Por enquanto, o trabalho mais significativo da consultoria é a participação no acordo entre o Bahia e o Grupo City. Foi o clube baiano que procurou a empresa, que ficou responsável por mapear o mercado brasileiro para mostrar qual seria o investimento necessário que a agremiação teria de receber para ser competitiva no futebol nacional. Foram analisados os custos, receitas e riscos.

‘Depois disso, desenhamos algumas regras de proteção ao clube baiano. O que ele precisava fazer para se resguardar de uma falha de um investidor que possa lesar a agremiação, por exemplo’, conta Grafietti.

A etapa seguinte incluiu a exibição de casos bem-sucedidos e de insucessos de clubes que foram comprados por investidores. O trabalho, então, foi encerrado com avaliação de quanto custaria o Bahia se ele fosse vendido naquela época. No fim, chegou-se ao entendimento de que a proposta do City pela compra de 90% da SAF e o compromisso de investir R$ 1 bilhão em até 15 anos é compatível com o que buscava o Bahia.

O contrato prevê mínimo de R$ 500 milhões investidos na aquisição de jogadores, R$ 300 milhões destinados ao pagamento de dívidas e R$ 200 milhões reservados para infraestrutura, incluindo categorias de base.

‘Tudo o que foi mapeado de ‘fragilidades’ que o clube tinha e deveria buscar num investidor estava na proposta do City, inclusive o pagamento das dívidas, que é fundamental quando o time está disputando uma competição tão difícil quanto o Brasileirão’, avalia Grafietti.

 

NEGÓCIOS NO BRASIL E EUROPA

Grafietti e outros dois integrantes do grupo moram em Portugal porque a maioria dos clientes, entre investidores e clubes, é europeu. A outra parte está no mercado do Brasil, onde estão os outros dois membros. A empresa, no momento, está mapeando o futebol nacional para investidores interessados. Os nomes são mantidos em sigilo.

Na visão de Grafietti, a consultoria é bem-sucedida não só quando um investidor e um clube se acertam e a operação é concluída, mas também em casos opostos, quando a compra (ou a venda) não é recomendada. ‘Não é comum o mercado fazer isso’, diz. Ele cita como exemplo um caso de um grupo suíço que estava interessado na aquisição de um time francês.

‘Fizemos todo o trabalho de avaliação do mercado. No fim, recomendamos que não fizessem a compra porque o valor era muito alto’, conta.

Fonte: Gazeta Digital