75% das cidades de Mato Grosso não têm pediatra

Deficit de pediatras pelo Sistema Único de Saúde (SUS) atinge 75% dos 141 municípios do Estado. A informação é do presidente do Conselho de Secretarias Municipais de Saúde de Mato Grosso (Cosems-MT) Marco Antonio Norberto Felipe. A última Demografia Médica divulgada pelo Conselho Federal de Medicina (CFM) foi em 2020. Nela, foi pontuada a existência de 485 pediatras no Estado para atender cerca de 1 milhão de crianças. A falta do profissional foi sentida na pele por Poliana Costa, 24, moradora de Alto da Boa Vista (1059 km a nordeste). Ela perdeu a filha, Maria Allyce, de 4 meses, no dia 17 de junho por falta de atendimento adequado.

Poliana conta que na cidade há apenas um posto de saúde e que desde o mês passado a criança vinha sofrendo com fortes dores, acompanhadas de vômitos, diarreia e muita febre. Atendida por uma clínica geral, a menina era liberada e assim foram 3 idas ao postinho.

Na última, a bebê foi encaminhada e internada por 3 dias em São Félix do Araguaia. Recebeu alta e voltou a ficar ruim. Nesse postinho da cidade não tem nada. Penso que se tivesse um médico especializado e atendimento adequado, minha filha estaria viva.

Poliana conta que ao retornar para Alto da Boa Vista a criança teve outra recaída, retornou com ela imediatamente ao PSF e pediu para que fosse encaminhada ao Hospital Regional de Água Boa ou de Barra do Garças, pelo fato de não ter mais recursos médicos para ela em São Félix do Araguaia.

Mas o pedido foi negado. Foi muito desesperador ver minha filha morrendo nos meus braços. Tentei por conta própria levar ela para ser atendida, mas ela morreu no meio do caminho.

Marco Antônio diz que a falta de pediatras é uma realidade na maioria dos municípios e que muitas crianças são afetadas pela falta de atendimento. Somente na região Teles Pires, dos 14 municípios, 10 não têm o profissional.

Consequentemente, encaminhamos para as referências fora do município. A realidade é que 80% dos municípios contam apenas com clínico geral. Além de pediatras, as cidades sofrem com falta de cardiologista, neurologista e outros.

Outro lado

A reportagem tentou contato com a Prefeitura de Alto da Boa Vista, mas as ligações não foram atendidas.

Fonte: Gazeta Digital